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sábado, 4 de junho de 2011

A PAGANIZAÇÃO DO CRISTIANISMO

     A PERSEGUIÇÃO DA IGREJA PRIMITIVA
     Por mais de dois séculos, como disse Tertuliano, o sangue dos mártires foi a semente da igreja, consciente do céu e sem ambição terrena, uma igreja cujos membros tinham atingido cerca de dez porcento do império romano. Os cristãos diferentes dos pagãos, eram desprezados e culpados por qualquer desastres natural, pois sua recusa em adorar idolos havia supostamente desencadeado a ira dos deuses. No início do terceiro século, Tertuliano escreveu:  Se o tibre atinge os muros, se o nilo não enche para para regar os campos, se o firmamento não se movimenta ou se a terra o faz, se há fome, se há fome, se há pragas, logo vem o grito: "Joguem os cristãos aos leões!"(Tertullian, Apology, 40.2)
     Tertuliano, um renomado advogado cristão romano, convertido do estoicismo ao cristianismo, foi um dos primeiros e mais proeminentes teologos e apologistas da Igreja. Tertuliano declarava:  "Dia a dia vós vos lamentais sobre o progresso e aumento dos cristãos. vosso grito constante é que o estado em que vos encontrais é responsabilidade nossa, que os cristão estão em toda a parte". (Tertullian, to the nations, 1.4)
     O sistema totalitario dos césares trouxe a visão pagã do imperador como divindade(ele tinha o controle absoluto sobre a vida e a morte) tornando admissível tudo o que fizesse. A lealdade aos cultos pagãos tradicionais, encabeçada pelo imperador como  SUMO PONTÍFICE era uma forma de patriotismo. A rejeição cristã aos deuses pagãos e à adoração ao imperador era vista como traição e  acirrava o ódio popular contra a minoria considerada não-patriota. Junte-se a isso o fato de que os templos pagãos começaram a ser abandonados e as igrejas cristãs a ficarem lotadas. Nos idos de 250, o imperador Décio martirizou milhares de pessoas, inclusive os bispos de Roma, Antioquia e Jerusalém bem como um grande número dos próprios soldados do imperador que se recusava a sacrificar aos ídolos.(ibid.,p.17.). A intenção do imperador era que os cristãos voltassem à antiga religão, através de longos jugamentos, repetidos interrogatórios e extenso uso de torturas. Chadwick explica ainda: [Décio exigia] que cada um apresentasse diante de um comissário especial um certificado (LIBELO) de  que havia sacrificado aos deuses...Eles[os certificados] eram uma tentativa deliberada de apanhar as  pessoas , e foram o mais grave ataque até então sofrido pela igreja. O número de apostatas[os que negavam a fé para salvar suas vidas e posses] era enorme, especialmente entre os proprietarios de terra.(H.Chadwick, the Early churchu[ Wm.B.Eerdmans, 1967], p.118)
     Isso parece uma prévia do que acontecerá quando o império romano renascer sob o anticristo. A grande perseguição, como veio a ser conhecida, começou em 303 sob o imperador Diocleciano e seu co-imperador Galério. Todas as bíblias deveriam ser entregues as autoridades, todas as igrejas destruidas, toda adoração cristã proibida, todos os clérigos aprisionados e todos os cidadãos do império deviam sacrificar aos deuses pagãos sob pena de morte. Em muitos lugares houve um banho de sangue. Por exemplo na Frígia, onde toda população era cristã, foi dizimada uma cidade inteira.(Hughes.,op.cit.,p.172).
      MONTANDO O PALCO PARA A APOSTASIA
     No ápice da mais devastadora perseguição veio o livramento: através de Constantino. Depois de conquistar o império do ocidente, e seu aliado Licínio conquistar  o Oriente, juntos assinaram o Édito de Milão em 313, restaurando aos cristãos os plenos direitos de cidadãos. O fim da perseguição parecia um presente de Deus. Infelizmente, esse acontecimento serviu para armar o palco para uma apostasia que envolveria o cristianismo por mais de um milénio. A noiva de Cristo havia se casado com o paganismo. "Quando a vi , admirei-me com grande espanto"(Ap.17:6). A Igreja entrou numa apostasia que a conduziu ao catolicismo romano e que tem perdurado até os dias de hoje. O julgamento final de Deus contra a meretriz esta chegando.  Graças a Constantino o mundo converteu o cristianismo.
     DE PERSEGUIDA A PERSEGUIDORA
     Peter Brown escreve: Longe de ser uma fonte de melhoramento, esta aliança[com o estado] foi uma fonte de maior perigo e tentação[do que havia sido a perseguição] . Com a queda do imperio romano, os papas assumiram o papel do imperador e o casamento com o mundo estaria completo. Peter de Rosa descreve aquilo que a igreja se transformou após Constantino:  Não passou muito tempo [após Constantino] até que os[supostos] sucessores de Pedro deixassem de ser os servos, passando ser os donos do mundo. Eles se vestiriam de púrpura como Nero e chamariam a si mesmos de PONTIFEX MAXIMUS. Eles se refeririam ao pescador como o primeiro papa e apelariam não para a autoridade do amor, mas do poder nele investido para  agirem como Nero. A religião que se orgulhava de ter triunfado sobre a perseguição  mediante o sofrimento,  torna-se-ia a fé mais perseguidora que o mundo já viu. Ela ordenava, em nome de Cristo, que todos aqueles que discordassem fossem torturados e, ás vezes, crucificados e queimados.(Peter de Rosa, vicars of christ: the dark side of the papacy, pp.34-35)
     Hasler explica como a metamorfose ocorreu:"Uma vez que o cristianismo se tornou a religião estatal, os desvios da ortodoxia ameaçavam tanto a unidade do império como o da igreja. E era o imperador quem tinham o maior interesse em resolver as disputas doutrinárias. Ele convocava concílios ecumênicos e ditava os seus resultados. Em  1864 o SYLLABUS ERRORUM de Pio IX condenou toda a visão existentes dos direitos de consciência e fé e também de profissão religiosa.  O SYLLABUS declarava que era um erro terrível admitir que os protestantes tivessem direitos iguais aos católicos, ou permitir que imigrantes protestantes celebrassem  seu culto livremente. Inocêncio III assassinou muito mais cristão em uma tarde, do que qualquer imperador romano tenha conseguido fazer em todo seu reinado. A inquisição foi a instituição mais impiedosa e feroz que o mundo já conheceu em sua destruição de vidas, propriedades, moral e direitos humanos. A Inquisição não era do estado, mas do papado. Foram os próprios papas que inventaram a inquisição. O papa Urbano II (1088-1099), inspirador da primeira cruzada, decretou que todos os hereges deviam ser torturados e mortos. Isso tornou-se dogma da igreja. Como uma testemunha ocular que viveu no principio do século XVIII na Espanha, Gavin nos conta: "Este tribunal é composto de três inquisidores, que são juízes absolutos, do seu jugamento não há apelação, o primeiro inquisidor é um divino, o segundo, um casuísta e o terceiro, um civil. O primeiro e o segundo são sempre sacerdotes...o terceiro, algumas vezes não o é. Os inquisidores te o poder despótico de mandar em qualquer alma vivente; e nenhuma desculpa pode ser dada,  nem contradição ser feita às suas ordens.(Gavin,op.cit.,p.212).
     A IGREJA PEREGRINA
     Dentre as evidências dos antigos registros está o Édito dos imperadores Graciano, Valentino II e Teodósio I, de fevereiro de 380, o qual estabeleceu o catolicismo romano como religião estatal. Em parte ele dizia:"Ordenamos que aqueles que seguem esta doutrina recebam o título de cristãos católicos, mais os demais jugamos serem  loucos e irracionais, e passíveis de incorrer na desgraça do ensino herético, as suas assembléias nem devem receber o nome de igrejas". Esses cristãos  que não eram católicos haviam se separado, pela sua consciência diante de Deus e em obediência a sua palavra, daquela que  já naqueles dias eles sinceramente chamavam de A MERETRIZ DA BABILÔNIA. Durante quatro séculos houve congregações de crentes que chamavam a si mesmos de irmãos. Esses crentes simples foram queimados na estaca ou assassinados a espada, suas cidades e vilas exterminadas pelos exercitos papais. Eles negavam que a igreja católica romana fosse a igreja de Cristo, declaravam que São Pedro jamais havia estado em Roma, não fundou o papado, e que os papas eram sucessores dos imperadores, não dos apostolos. Eles ensinavam que Cristo não tinha onde reclinar a cabeça, mas o papa vivia num palacio, Cristo não tinha propriedade nem dinheiro, mas os papas eram ricos; certamente...estes abastados arcebispos e bispos, estes padres mundano, estes monges gordos eram os fariseus da antiguidade renascidos! Eles estavam certos que a igreja católica, era a MERETRIZ DA BABILÔNIA, o clero era a sinagoga de satanás e o papa era o ANTICRISTO.(Durant,op.cit.,vol IV, p.772)
     Martin Lutero escreveu sobre esses verdadeiros:  Não somos os primeiros a declarar que o papado é o reino do anticristo, antes de nós, tantos e tão grandiosos homens decidiram expressar a mesma coisa de forma tão simples e clara(Plass, what Luther says, vol.1,p.36). Mesmo antes que Martin Lutero se levantasse, a Inglaterra teve os seus próprios reformadores, que chamavam a hóstia consagrada de apenas PÃO, negavam que os sacerdotes tivessem poder especial para absolver pecados, não criam que os sacramentos fossem necessarios à salvação e não criam que as peregrinações, santuários consagrados e orações pelos mortos tivessem qualquer valor . Eles testificavam que uma pessoa pode ser salva somente pela fé, e que a Bíblia deve ser a única norma de fé e não a igreja.(Will Durant, the story of civilization,1950, volumeVI, pp.531-532, ver também E.Broadbent, the Pilgrim church Londres, 1931).  Até mesmo alguns lideres da igreja catolica falavam contra a imoralidade dominante.