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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

AVAREZA



A COMERCIALIZAÇÃO DA RELIGIÃO
            Para algumas pessoas, a piedade só é interessante quando ela demonstra ser lucrativa. Como disse o apóstolo Paulo: Pensam que a piedade é fonte de lucro (1Tm. 6:5b). Os falsos mestres sempre exploraram a piedade para obter lucro. A comercialização da religião é relatado  tanto pela bíblia quanto pela história secular.
            Foi a venda de indulgências, que acendeu a ira de Lutero a tal ponto que ele afixou as 95 teses na porta da capela de castelo de Wittenberg e desencadeou a Reforma. Paga-se para rezar missas, as quais supostamente reduziriam o tempo de sofrimento das almas do purgatório. Colombo com pensar louvava o dinheiro por que, segundo ele, “Quem o possui tem o poder de levar as almas ao paraíso”. A venda de salvação pela igreja Católica enganou milhões de pessoas durante séculos. Segundo se sabe essas abominações ainda são praticadas especialmente nos países católicos.
            O que dizer da venda de santuários de prata da deusa Diana (At.19:23); e de Simão, o Mago, que pensou que poderia comprar dos apóstolos poderes espirituais, de onde veio o termo “simonia”, cujo significado denota a compra e venda de privilégios espirituais ou de um ofício eclesiástico. Seitas religiosas ainda cobram quantias exorbitantes para um ensino personalizado de suas doutrinas. Enquanto uns cobram, outros como Simão (At. 8:9,18,19,20), pensam que o dom de Deus pode ser comprado. Há evangelistas que apelam para “ofertas de amor”. Alguns pregadores de televisão chegam a prometer aos espectadores a prosperidade em sua vida sob a condição de lhes enviarem muito dinheiro como “semente”.
Diferente de tais falsos mestres religiosos, disse o apóstolo Paulo: A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis nem de desculpa para a avareza, Deus disto é testemunha (1Tss.2:5).
            Paulo nunca mercadejou a palavra de Deus (2Co.2:17), por que ela não é uma mercadoria. Jamais cobicei prata, nem ouro, nem vestes: disse ele (At.20:33).
            O apóstolo Pedro também nos alertou acerca dos falsos mestres:”também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fingidas (2Pe.2:3 – palavras fingidas no grego, pode ser traduzida por palavras falsas, feitas ou fabricada. A mensagem dos falsos mestres é pré-fabricadas para enganar os incautos. Eles fazem um arranjo nas suas mensagens para obterem aquilo que eles mais desejam,é claro que não é a salvação das almas dos ouvintes, mas o dinheiro que elas podem lhe dar).
            Os falsos mestres estavam mercadejando com a palavra de Deus, como se ela fosse mercadoria, estavam fazendo comércio de vós(os crentes, como disse Pedro), como se os crentes estivesse a venda, até Simão pensou que poderia comprar o dom de Deus. As coisas deste mundo podem até ser adquirida com dinheiro, mas os crentes, a palavra de Deus e o dom de Deus não são deste mundo.
            A pergunta é, será que o que está sendo ensinado promove a piedade ou a cobiça?
INSTRUÇÕES AO CRISTÃO POBRE
            De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro(1Tm 6:6).
            A própria noção de que a piedade poderia ser fonte de lucro(1Tm 6:5b), soa como algo absurdo.
            Contudo, o modo pelo qual Paulo acaba com ela não é contradizendo-a, mas confirmando-a. A piedade é uma grande fonte de lucro, desde que com lucro estejamos nos referindo a lucro espiritual, e não financeiro, e desde que acrescentamos ainda o contentamento.
            A palavra usada por Paulo para contentamento (autarkeia) é o termo que normalmente era empregado pelos estóicos para uma auto-suficiência totalmente independente das circunstâncias. O contentamento Cristão também não depende de coisas externas.
            Aprendi a viver contente (autarkeia) em toda e qualquer situação, escreveu Paulo, tanto de fartura como de fome, tendo muito ou passando necessidade, disso já tenho experiência (Fl.4:11,12).
            O contentamento não é encontrado em nós mesmos, como ensinavam os estóicos e como ensinam os adeptos da nova era, mas em Cristo. “Tudo posso” – Prosseguiu Paulo – “naquele que me fortalece” (Fl.4:13).
            Desse modo o contentamento genuíno “não é a auto-suficiência, mas Cristo-suficiência”.
            É por isso que a piedade com contentamento equivale a um grande lucro espiritual.
OS POBRES QUE TÊM CONTENTAMENTO
            As pessoas a quem Paulo está se referindo não os indigentes, que carecem das necessidades básicas para sobreviver. Ninguém pode estar contente na miséria. Antes, Paulo refere-se aos que, tendo o que comer e com que vestir, com isso estão satisfeitos (1Tm.6:8). Eles nos lembra do fato de enorme importância da nossa experiência humana, relativamente ao nosso nascimento e a nossa morte (nada trouxemos para esta mundo e dele nada podemos levar 1Tm.6:7). Seria sensato de nossa parte não acumularmos Tesouros na terra (Mt.6:19), uma vez que dele nada podemos levar.
            Qual deve ser , a nossa atitude diante das coisas materiais ? Paulo responde: “Por isso,tendo o que comer e com que nos vestir, estejamos com isso satisfeitos” (1Tm.6:8). Assim, ele retorna ao tema do contentamento cristão. Coisas luxuosas não lhe são necessárias; mas o suprimento das necessidades, são.
            Tais necessidades são o que ele se refere como “o que comer e com que nos vestir”, exatamente aquilo a respeito do qual Jesus nos proibiu de nos preocuparmos, uma vez que prometeu que o nosso Pai Celestial nos daria essas coisas (Mt.6:25). A palavra que Paulo usa expressão “o que nos vestir” é skepasma (literalmente, “o que nos abriga”), que tem “principalmente o sentido de roupa...,mas também o de casa”. Assim, “alimentos e roupas” podem ser estendidas para incluir o abrigo de uma casa, pois essas são as três necessidades básicas em nossa jornada.
            Será que isso é tudo? Provavelmente não, por que o que Paulo está definindo não é o máximo que pode ser permitido para o crente, mas sim o mínimo que é compatível com o contentamento.
OS POBRES QUE SÃO INVEJOSOS
            Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Por que o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores (1Tm.6:9,10).
            Paulo está descrevendo os pobres ambiciosos, que “querem ficar ricos”(v.9) e que são movidos pelo “amor ao dinheiro”(v.10).
            O dinheiro pode ser como um vício, uma vez que “Quem ama o dinheiro, jamais terá o suficiente” (Ec.5:10). A Bíblia nos diz que não devemos nos deixar impressionar pela riqueza dos outros, mas que nos lembremos de que eles a deixarão quando partirem (Sl.49:10,16,17). Também está explicitamente dito que “ quem tenta enriquecer-se depressa não ficará sem castigo” (Pv.28:20).
            Assim devemos orar para que não nos seja dada “nem pobreza nem riqueza”, mas apenas “ o alimento necessário” de cada dia, isto é, as necessidades que temos nesta vida (Pv.30:7,8,9).
            Jesus nos alertou contra todo tipo de ganância e nos lembrou de que a nossa vida não consiste na quantidade de bens que possuímos.(Lc.12:15)
            Lembremos de Adão, Eva, Acã, Judas, Ananias e Safira, todos foram alcançados pela dor como resultado de algum tipo de cobiça (Gn.3:6; Js.7:20,21; Mt.26:14; Jo.12:4,5; At.5:1,2).
            Paulo, agora, retoma o mesmo tema e observa o caminho de queda do ambicioso. Os  que querem ficar rico caem...(v.9a ). Primeiramente, caem em tentação, em armadilhas. A muitas tentações tais como a desonestidade e roubo. E as “armadilhas” em que caem com certeza são as do diabo (como em 1Tm.3:7 e 2Tm.2:26), pois por causa dessa cobiça o diabo os seduz para o materialismo e para o relaxamento moral; e dispõem-se a “sacrificar o dever e a consciência em busca da riqueza”.
            Em segundo lugar, os gananciosos são tomados por muitos desejos descontrolados e nocivos ? (v.9b).
            Certamente, a cobiça já é em si mesma um desejo, um desejo egoísta e até mesmo idólatra (Ef.5:5), mas ela gera outros desejos, pois o dinheiro é uma droga, e a cobiça é um vício. Quanto mais tem, mas se quer. Mas esses desejos trazidos pela cobiça são “concupiscências insensatas (que não podem ser defendidas racionalmente) e perniciosas (elas aprisionam e não deixam livre o espírito humano)”(v.9). O ouro é como a água do mar, quanto mais dela se bebe, mais sede se tem.
            A queda dos ambiciosos, se deve aos maus desejos que os levam a mergulharem na ruína e na destruição  (v.9). A metáfora os apresenta como se estivessem afundado e se afogando numa destruição total ou, separando as duas palavras, numa ruína total nesta vida e na destruição do inferno, na outra. A ironia é que os que voltam o seu coração para o ganho acabam em total perda, a perda de sua integridade e até de si mesmos. Pois, como Jesus perguntou, “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma ?” (Mc.8.36).
            O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, disse o apóstolo (v.10a). O problema não é o dinheiro, mas sim o amor ao dinheiro, ou seja, a avareza. No texto grego não há o artigo definido “a” antes de “raiz”: não é “a raiz” [única], mas sim “uma raiz” [dentre outras]. Assim, o que Paulo disse não é que seria “a raiz”,(gramaticalmente,  não é essencialmente requerido haver no grego o artigo definido, para se traduzir com o artigo, mas nesse caso ele seria naturalmente usado, se fosse o sentido). O amor ao dinheiro, não é a raiz de “todo mal”, no singular, com a idéia de uma abrangência total,mas é uma raiz de “todos os males”, no plural.
            Que males são esses, então, dos quais o amor ao dinheiro constitui uma importante raiz? Uma longa lista de males poderia ser fornecida.  A avareza leva ao egoísmo , à violência e até ao assassinato, ao engano, à fraude, ao perjúrio, ao roubo, à inveja, às rixas e ao ódio. A cobiça acha-se por trás dos casamentos por conveniência, das perversões da justiça, do tráfico de drogas, do comércio de pornografia, das chantagens, da exploração dos fracos, da negligência às boas causas e da traição entre amigos. Mas Paulo concentra-se em apenas dois males que são decorrentes da ambição. O primeiro é: “se atormentaram com muitos sofrimentos” (v.10c), ou “se traspassaram com muitos espinhos dolorosos”, que sofrimentos  ou espinhos são esses. Paulo não esclarece, mas eles podem incluir a preocupação, o remorso, as angústias de uma consciência desprezada, a descoberta de que o materialismo jamais poderá satisfazer ao espírito humano e , finalmente o desespero. Embora a Bíblia ensine o contentamento, algumas igrejas denominadas cristã chegaram a fazer mau uso dessa ênfase cristã defendendo a exploração dos pobres e mantendo-os sob opressão, prometendo-lhes,todavia, a liberdade no céu. Mas Paulo não tem culpa desse erro.
            Como vimos, a pobreza a que ele se refere não é a situação de indigência, ou miséria, que destrói a própria condição humana, mas ele se refere a um estilo de vida simples que é perfeitamente compatível com a dignidade humana. Nessa condição, devemos ter contentamento, mas não naquela.
            A ênfase principal do apóstolo é clara, a saber, que a cobiça é um mal que destrói a própria pessoa, ao passo que a simplicidade de vida e o contentamento são virtudes belas, que se assemelham a Cristo.
            Em resumo, ele não esta a favor da pobreza contra a riqueza, mas a favor do contentamento contra a cobiça.
            Sendo homem de Deus, Timóteo tinha de fugir destas coisas e buscar outras coisas (1Tm.6:11).
            Tinha de fugir do amor ao dinheiro e de todos os males que com ele vem (v.9,10), dos desejos malignos da juventude (2Tm.2:22) e de tudo o que fosse incompatível com a perfeita vontade de Deus. Em vez dessas coisas, deveria buscar, a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.
INSTRUÇÃO AO CRISTÃO RICO
                Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir.
                Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida.(1Tm.6.17-19)
                É obvio que o tema desse parágrafo são os ricos. Paulo depois de falar aos cristãos pobres e, em particular, àqueles que “querem ficar ricos”, volta-se para os cristãos, “aos que são ricos no presente mundo”.
                A primeira coisa a observar com respeito a esse parágrafo é que Paulo não ordena que os ricos se desfaçam da sua riqueza. Mas ele lhes dá uma instrução negativa e uma positiva, a primeira, alertando os ricos com respeito as obrigações que eles têm.
INSTRUÇÃO NEGATIVA: Os perigos de ser rico (v.17) O primeiro perigo a que os ricos se expõem é o orgulho.
 Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes?(v.17a). A riqueza com freqüência gera a vaidade. Ela faz as pessoas sentirem-se importantes e assim acabam “desprezando os outros”. É comum os ricos gabarem-se da casa que têm, da mobília, do carro, do iate e de outros bens.
                O segundo perigo a que se expõem os ricos é a falsa segurança. Ordene aos que são ricos no presente mundo que não...ponham sua esperança na incerteza da riqueza.(v.17 a)
                A riqueza é uma incerteza. Jesus nos alertou sobre os prejuízos causados pela traça, pela ferrugem e pelos ladrões, (Mt6.19) e poderíamos ainda acrescentar: pelo incêndio e pela inflação, como perigos adicionais. Muitos são os que foram dormir ricos e acordaram pobres. O objetivo da nossa confiança não devem ser coisas, mas sim uma pessoa; não a riqueza, mas a Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação (v.17 b). Esse é um acréscimo importante. Não devemos trocar materialismo por ascetismo. Pelo contrário, Deus é um Criador generoso, que quer que apreciemos e desfrutemos as boas dádivas da criação. Se considerarmos certo adotar um estilo de vida econômico mais simples do que teríamos condições de manter isso seria em solidariedade aos pobres e não por considerarmos a posse de bens como um mal.
                Os dois perigos, então, a que os ricos se expõem são um falso orgulho e uma falsa segurança. Desse modo, a riqueza pode estragar dois relacionamentos primordiais, fazendo com que nos esqueçamos de Deus (Dt.8.13,14) e desprezemos o nosso próximo. (Lc.12:15,17,18,19)
INSTRUÇÃO POSITIVA: Os deveres decorrentes da riqueza.(1Tm.6.18,19) Timóteo não tem apenas que prevenir os ricos quanto aos perigos que enfrentam, mas também alertá-los sobre os deveres que têm. Timóteo terá de procurar desenvolver nos ricos um senso de responsabilidade. Ordene aos que são ricos,que, sejam ricos em boas obras. Que acrescentem um outro tipo de riqueza à riqueza que já possuem. Essa é uma admoestação necessária. Assim Timóteo deve ordenar a eles que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a  repartir (v.18). Usando a sua riqueza para aliviar as necessidades e para promover boas causas.
                Fazendo isso, estarão imitando a Deus, pois ele é rico, contudo de tudo o que possui suprirá todas as necessidades que tivermos (Fl.4:19).